quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ela não estava distante de mim, apenas suficientemente perto para eu não ter coragem de olhá-la, porém juro que a conheço. Sobre seu colo repousava um livro que prendia sua atenção. Não precisei ver a capa para saber de qual se tratava. Era “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, exatamente a mesma edição antiga que li tempos atrás. Com o dedo indicador marcava a página seguinte enquanto alisava delicadamente o papel. Parecia se deliciar com cada passagem lida e eu somente contemplava aquele momento. Além disso, carregava uma pequena pasta azul com papeis, uma bolsa preta e os olhos intensos. Lembro de, na época do colégio, observá-la exatamente da mesma maneira, relutante. A mesma relutância me impedia de falar com ela naquela ocasião exata. No passado, notando meus olhares, um dia veio falar comigo. Gaguejei, ri, suei frio. Era um garoto tímido de 14 anos e pelo visto não havia mudado muito. Tenho a impressão de que ela percebeu naquela quarta-feira assim como em anos anteriores, pois retornava os meus olhares. Ou quem sabe somente se acobardasse. Talvez nem fosse a mesma pessoa...

Um comentário:

Bia Seilhe disse...

Que post estilo Raffinha...

ps: quando a sua impressora pifar, me avisa pra eu rir? ;]