domingo, 2 de dezembro de 2007

I.

Calada da madrugada, só o que sabia é que já havia passado das três. Não me atreveria a ver que horas eram nem haveria para quem perguntar. É curioso em seguida à hora do rush andar por um caminho ermo como aquele, com meus passos vacilantes ecoando onde antes era incapaz de ouvir meus pensamentos. Ao longe pensei ter visto alguém. Talvez um cachorro ou gato, o único ser a me fazer companhia. E o que me restava? Aguardar a vinda de um ônibus, embora já cogitasse a possibilidade de pegar um táxi. Não quis ficar imóvel. Caminhei no compasso das batidas inquietas do meu coração. Medo? Não, uma apreensão, um qualquer desassossego. Angústia, essa é a palavra e eu sabia bem o motivo. Aqueles pensamentos irrequietos, aquilo que eu lutava para não pensar era a verdade mais evidente naquele ínfimo momento eterno. Quem se importa? O ônibus veio, isso importava. A viagem me distrairia. Mas não, nem as poucas pessoas próximas, nem a família saindo de uma lanchonete, nem as luzes dos postes, nem as placas, nada. E quando menos percebi já havia descido.

II.

As pessoas me olhavam com estranheza, não estava mais sozinho. Muitos bêbados da madrugada de sexta. Aquele odor intenso de uréia inflamava as narinas a cada respiração, aquelas danças descompassadas sem música, a gritaria. Um casal. O homem, forte, gordo, vestindo uma calça jeans surrada, agarrando a mulher à força. A mulher, cabelos loiros mal pintados, uma tatuagem nas costas por onde as mãos do homem se esfregavam e apertavam com força para ela não se distanciar. Aquele ar de foda tangível, eu sentia o desejo de ambos. Nauseante. Como animais eles se queriam, como animais eles tocavam seus corpos suados, quase nus, como animais eles mal se agüentavam em pé devido ao álcool. Sujos, e me sentia como eles, sujo, por observar aquela cena com tamanha indiscrição. Obsceno, sórdido, um gozo demasiadamente humano. Queria me distanciar daquilo, seguir meu caminho, por mais incerto que fosse. Aquilo me incomodava, pois eu sabia que era como aqueles dois. Por mais que sejamos racionais todos não passamos de animais. Talvez a própria racionalidade seja uma ilusão e tive essa sensação como nunca antes. Segui meu caminho...

***

Um recomeço estranho talvez...

4 comentários:

Bia Seilhe disse...

E foi só as férias chegarem que você reencontrou a inspiração pro Blog!

A ECO é que estava atrapalhando mesmo...

;]

Anônimo disse...

inspirado... o que é?

os primeiros capítulos do seu livro???

muito bom!

Anônimo disse...

recomeço diferente e inspirado, gostei!

e a campanha blog de férias?! não pode deixar o povo desanimar.

Luiz Fernando disse...

Aquele ar de foda tangível?

o que vc anda lendo cara?