Fazer a barba é algo corriqueiro na vida da maioria dos homens e comigo não é diferente. Nada complicado, só necessitamos de um pouco de espuma e algo que sirva para cortar os pêlos. Cada homem tem uma relação com o ato em si sendo muito comum um ódio mortal, uma vontade de ser imberbe e nunca ter que se dar ao trabalho. Acham um martírio ter que rotineiramente se preocupar com seus rostos. Não sou assim, dedico um amor especial à minha barba e também para fazê-la. Lembro que a primeira vez que a fiz foi aos quatorze anos, aquela penugem insistente que crescia no canto da boca gentilmente apelidada pelos amigos de “bigodinho de porteiro”. Tive que tomar uma atitude e pedi para o meu pai ensinar como me livrar daquele incômodo. Estava na casa do meu avô e, roubando um barbeador no armário, pude ter minha primeira lição na qual lembro não conseguir conter o riso. Um púbere se livrando de uns poucos pêlos com um barbeador Bic na pia do banheiro quando poderia usar uma pinça e chorar pelo fim de cada um é risível. Ao mesmo tempo um medo do que poderia acontecer caso eu não tivesse cuidado e a dimensão da hemorragia que poderia causar. Assim tudo começou e quanto mais vezes me livrava dos fiapos mais cresciam e com mais rapidez. Atualmente não posso dizer ainda ter uma barba da qual me orgulhe pela virilidade que transpareça, as falhas persistem e constantemente são notadas, mas não tenho uma face despida. Dessa forma chego a esse sábado... Estava há umas duas semanas sem fazer a barba e assim ela havia atingido um tamanho considerável. Sabia que não poderia aparecer assim na segunda-feira, não no meu primeiro dia no estágio, precisava estar apresentável, um rosto límpido e branquelo como costuma ficar após muito tempo coberto. Óbvio que precisava estar impecável e amanheci pensando nisso. Porém uma outra idéia me ocorreu, eu só precisava estar assim na segunda e não no fim de semana inteiro. Era o momento de experimentar. Todo serelepe, comecei a imaginar que desenho poderia fazer na barba sem que ficasse extremamente esquisito (minimamente eu sei que ficaria afinal não estou habituado a ter qualquer visual além do rosto liso, barba por fazer e barba). Fui procurar na internet dicas de como fazer algo interessante. Muito me surpreendeu não ter achado nada além de blogueiros reclamando do fato de terem barbas e sites indicando a forma correta de fazer. Parti então para o lugar comum... Cavanhaque? Algo me fez cismar que daria uma aparência séria demais, sendo destoante com meu cabelo comumente desgrenhado. Uma idéia interessante seria algo parecido com nosso antigo imperador D. Pedro I, ainda serviria como homenagem aos 200 anos da chegada da Família Imperial Portuguesa. Infelizmente meu bigode só deu o ar da graça no começo do aparecimento da penugem e depois decidiu manter um lugar secundário no conjunto da obra, jamais se juntando com o restante da barba para além de uns pelinhos ridículos. Descartado. Última idéia, um pequeno filete que percorresse o contorno do rosto (não sei se tem algum nome e, se tiver e souberem, digam qual é). Sim, era isso. Após um banho morno para dilatar os poros, apesar de nunca ver muita diferença, comecei o processo. Bastante espuma preparada num recipiente, uma lâmina de barbear e pronto. Tira daqui, tira de lá, corta aqui, ajeita ali, mais espuma aqui, um pouco de água por ali, um pequeno corte e um pouco de sangue do lado de cá, um fio de cabelo pela metade acolá... Chegou o triste momento de acertar o tal filete. Triste, muito triste. Um lado sempre parecia mais grosso que o outro, parecia ter mais pêlos numa curva que na outra, o lado esquerdo era mais denso que o direito e assim foi me aventurando. No final das contas estava péssimo, bem abaixo de onde eu imaginei e queria que ficasse. Mais de meia hora dedicada à arte de me barbear para um final medíocre. Pensei em chamar minha vizinha para ela dizer o que achava (no momento estava sozinho em casa e a opinião de terceiros, tendo em vista que eles não precisam ficar vesgos para olhar certos lugares, sempre conta), mas desisti da idéia. Não estava ruim, estava simétrico, direitinho, mas mal localizado. Depois disso precisei me arrumar para ir ao cinema e decidi que o fruto de tanto trabalho não seria visto só por mim, mas exposto para o mundo, e segui para o shopping com o novo look. Filme visto (“Cloverfield - Monstro” e seu subtítulo brasileiro idiota, porém um bom blockbuster), volta pra casa, banho e uma decisão tomada devido à reação das pessoas pela rua: raspei toda a barba de uma vez.
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Nota: na próxima vez procurarei um barbeiro.
5 comentários:
Continuo com minha opinião que D Pedro seria a melhor opção. Faria você passar a impressão no estágio que é uma pessoa nobre.
Pena que você não possui testosterona suficiente para ter pêlos suficiente.
E eu queria ter visto o filete ridículo. Tire foto da próxima vez para eu poder criticar melhor.
a minha barba graças a deus não cresce. o que faz com que eu frequentemente tenha uns pelinhos sem vergonha perdidos pelo rosto. e quando dá vontade eu tiro, afinal tenho espinhas demais.
e porque você não botou uma foto desse momento?
meninos sempre reclamam de barbas. tendo-as ou não. mas que coisa. tenham-nas, por favor.
vc me fez desistir de postar no meu blog, pois eu havia escolhido como título ''todo carnaval tem seu fim'', embora eu não fosse falar explicitamente de carnaval. mas, enfim, já deve ter virado clichê nessa época, né?
Assino e ratifico o que a Vivian disse.
Um barbeiro realmente te ajudaria bastante! E uma foto nos ajudaria bastante! Deixar tudo isso para nossa imaginação acabará se tornando algo muito pior doq ue poderia ter sido...
Cavanhaque é a um fim vergonhoso. Ainda bem que não fez isso.
Bom início de estágio para você!
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