sábado, 5 de julho de 2008

...

- Vamos lá! Tira uma carta!
- Quer apostar que será o Ceifador ou o Enforcado?
- Vai! Pega logo!
- Viu? O Ceifador...
Praça XV, sábado de manhã. A característica feira de antiguidades, velharias e bagulhos (uma “barraca”, que se fundamentava num plástico estendido no chão e materiais diversos jogados sobre, definia assim suas mercadorias) fervilhava com intenso movimento. Havia acabado de passar a madrugada de sexta em claro, mais uma, e os sentidos não respondiam a todas minhas vontades. As pálpebras cismavam em fechar a cada momento de descanso, se eu puder chamar “ficar agachado sobre um pedaço de papelão me equilibrando com a mochila nas costas e evitando a infiltração vinda da Perimetral” de descanso, o olfato era incapaz de perceber o cheiro provavelmente forte dos incensos que queimavam em determinada barraca, eu me encontrava numa espécie de dormência... Mas não impedia minha busca por seja lá o que fosse. Se há uma grande graça nesse tipo de experiência é não ter um objetivo definido.
- Quanto está o baralho de tarô?
- 5 reais. Está completo.
- Ah... Ok...
Lembra idas a sebos. Muita busca, paciência, sujeira pelas mãos, que conseguem uma aspereza num curtíssimo espaço de tempo, em alguns casos ataque de rinite alérgica, e muita pechincha. Negociar os preços é o mais comum a se fazer. Nunca se deve pagar aquilo que pedem. Consegui um vinil de Os Mulheres Negras que marcava 20 reais. Convenci o vendedor de que ele estava na sessão de discos por 10 reais e, por fim, paguei 6 reais e mais umas moedinhas que não completavam 80 centavos.
- Hei, garoto! Posso fazer por 3!
- Hum... Vou dar uma volta e depois passo aqui.
Obviamente não me refiro a parte mais “limpinha” da feira, local onde cada vendedor sabe exatamente o que está vendendo ou pelo menos tem a noção de que alguém mais desavisado estará disposto a pagar o preço que pessoas como eu nem pensam duas vezes antes de recusar. Estou falando da área mais popular, menos glamurosa. Lá encontramos desde cabeças de bonecas até peças de computador, passando por celulares “em perfeito estado” que possuem fotos de seus antigos donos como papel de parede. O espaço é apertado, ainda mais quando se tenta evitar pisar em mercadorias ou poças d’água, que sempre estão lá. Enquanto se observa uma coleção de DVDs percebe-se a briga logo atrás de uma mulher e um cachorro numa carrocinha, crianças deitadas sobre diversos tipos de tecido enquanto seus pais tentam provar o quanto aquele capacete de moto está em ótimo estado e não vale menos de 15 reais.
- Não tem como fazer por 2 não?
- Já era 5 antes. Não vou diminuir mais que isso.
- Ok então...
A manhã estava estranha. O comentário mais comum que se ouvia era “Mas afinal, hoje está frio ou quente?”. A todo o momento eu pensava em tirar meu casaco definitivamente ou colocar minhas mãos nos bolsos e não tirar de lá. Nas áreas mais próximas da Baía de Guanabara estava claramente mais frio, com uma neblina impedindo a vista de Niterói ou mesmo da Ponte. Do outro lado, nas proximidades do Museu Histórico estava quente, bem quente. Quase cogitei gastar um real comprando uma garrafa de água, mas ao lembrar que esse dinheiro podia ser gasto com algo mais precioso naquele momento que poderia nunca mais ser visto, fosse porque alguém comprou, fosse porque o vendedor o esqueceu lá, confundindo com o lixo...
- Por que eu comprei um baralho de tarô?!
Apenas quando eu não agüentava mais que comecei a pensar em seguir meu caminho para casa, afinal estava acordado desde as 6 horas do dia anterior. É ótimo poder pegar uma barca para segir seu caminho, ainda mais num sábado de manhã, em contraponto à hora do rush diária. É até possível relaxar um pouco. Sentei, coloquei minha mochila de lado, a sacola de compras junto e encostei a cabeça na janela...
- Por que diabos eu comprei um baralho de tarô?!

6 comentários:

Anônimo disse...

Isso é um conto ou um relato autobiográfico??

De qualquer forma, muito bom...

Luiz Fernando disse...

interessante...

deve ser legal ter um tarô
vou pensar seriamente nessa aquisição

Bia Seilhe disse...

Um baralho de tarô.

Impressionante como você me impressiona a cada dia, Pedro Gabriel...

Agora tem que saber usar, os significados e reinterpretações...

XD

Tatiana disse...

Joga esse baralho fora...Isso não é de Deus...

bjbjbjbjbjb

Anônimo disse...

Essa feira da Praça XV realmente é muito interessante.
Agora você vai ter que levar o baralho lá pra ECO pra gente brincar! =D

Zé Caetano disse...

"Joga esse baralho fora...Isso não é de Deus..."


concordo plenamente...


Seu Pai nao veria isso com clemencia... ¬¬


Pow tu esqueceu dos caras tentando vender o filho; outros malukos vendendo KY adulterado; 2 playboys por 1,50; as capas de cd vazias q eu comprei, e o claaaaassico da minha frustração... dr jivago de 10 por 8 e msm assim nao levei... =(



vlw Jesus!


aew devo colocar minha prog do anima mundi la no meu blog do multiply...

ve la dps...

http://caetanocp2.multiply.com/


saionarah!