Foi uma sensação estranha. Meu corpo estava lá, mas eu não. Sentado, eu aguardava não sei o quê. Não me importava muito, queria apenas que o tempo passasse enquanto eu esperava. Um rosto conhecido, dois... Demos rápidos “ois” e nos voltamos para nossas próprias vidas. Acho que no fundo ninguém se interessa por muito além de si mesmo. Que me perdoem os altruístas, mas tudo não passa de um tipo de egoísmo. Porém, logo voltaram até mim, despertando-me do meu sono acordado. Não conseguia entender o que me diziam, limitava-me a balançar a cabeça de maneira afirmativa, mantendo um sorriso no rosto. Ele falava empolgadíssimo, com toda a intensidade desse superlativo, ela tecia comentários sobre o que ele dizia, trocavam olhares, riam um para o outro e tornavam a falar. Ainda não sabia do que, mas parecia ser extremamente interessante. A dinâmica perfeita em que os dois funcionavam, isso sim despertava meu interesse. Parecia que haviam ensaiado suas vidas inteiras para aquele instante, para conversarem comigo enquanto eu estava naquele banco. Seus movimentos de mãos, suas feições, suas trocas de olhares. Eles estavam no palco, eu era a platéia.
Repentinamente me lembrei de um compromisso inadiável. Como eu já não sabia mais o que esperava há horas simplesmente me levantei e saí despedindo-me dos dois. Beijos nos rostos, apertos de mão, promessas de reencontros, coloquei meu casaco, empunhei meu guarda-chuva e segui. Conscientemente não sabia para onde ir, mas algo me fazia seguir por essa rua e não aquela, pegar esse ônibus, não aquele, dobrar nessa esquina... Parecia instintivo. Era instintivo. Cada vez mais escuro, o ocaso advinha. Em determinado ponto meus olhos apenas diferenciavam os vultos da rua apesar de poder notar claramente a iluminação dos postes. Uma noite densa, eu diria se conseguisse fazer minhas intenções ultrapassarem minhas cordas vocais. Elas morriam antes de sair. Então pude diferenciar um rosto, um grande amigo! “Mas ele não estava fora do país há tempos? O que fazia ali?” era o que eu deveria ter me questionado, mas tudo parecia fazer sentido. Além do mais, minha mente ainda estava esperando por seja lá o que fosse que esperava desde aquele banco... Entendi de pronto que era com ele que eu deveria ir para onde quer que eu me dirigisse. Ele estava nos planos que eu não havia feito e nem sequer pensado até aquele momento. Fomos conversando. Então lembrei! Era isso! Eu estava indo encontrar-me com todos. Todos estariam lá! Que felicidade! À distância pude ver, pessoas do meu passado, do meu presente, aquele que tivesse a mínima relação comigo estava lá me esperando. Percebendo minha chegada viraram seus olhares, pararam o que estavam fazendo, vieram até mim. Não precisava mais ser um saudosista, todo meu tempo estava reunido. Quantos bons tempos e mesmo os tempos ruins, tudo ali comigo. “Para que aquela festa? Por que todos queriam me ver?” uma pessoa sensata indagaria. Eu não. Só fui deixando-me levar.
Mas eu senti vergonha. Apesar de todos estarem lá me faltava algo, alguém, não sei ao certo. Aí compreendi! Era o que eu esperava desde cedo naquele banco com os dois atores atuando, era o que me fazia não enxergar a noite, era o que me deixava fora de mim. Que droga! Que droga! Que droga!
*Acordei desesperado, tampando o rosto de vergonha e saí de casa.*
***
Eu estava deitado ouvindo música. Minha atenção foi despertada por uma, maravilhosa! Sua letra, sua melodia, magnífica. Peguei uma caneta Bic que estava ao meu lado e anotei seu refrão em minha mão esquerda.
*Acordei ainda ouvindo a música sem jamais ter anotado nada. Continuei deitado por alguns minutos.*
***
Não os via há muito tempo. Anos, muitos anos. Apesar disso, era incapaz de lhes dar a menor atenção. Eu estava com ela e nada mais me importava. E nos beijávamos e nos acariciávamos e nos sentíamos. Quando minha mão tocou os cabelos de sua nuca percebi que não precisava de mais nada em minha vida.
*Acordei no meio da madrugada, virei para o lado, aproveitei as últimas imagens do sonho, sorri e voltei a dormir.*
2 comentários:
Quando eu crescer quero escrever que nem você!
Gostaria de saber o tipologia literária. É crônica?
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